Capoeira: Angola ou Regional? Entenda de vez as ...
Capoeira: Angola ou Regional?
Entenda de vez as diferenças e a história por trás dos dois estilos.
A capoeira, essa arte que mistura luta, dança e música, é uma das expressões culturais mais ricas do Brasil. Para quem está começando a mergulhar nesse universo, é comum a dúvida entre os dois estilos que mais se destacam historicamente: a Capoeira Angola e a Capoeira Regional. Embora partilhem a mesma raiz, suas filosofias, movimentos e ritmos se diferenciam de forma significativa.
A história da Capoeira Angola
A Capoeira Angola é a vertente mais antiga e tradicional. Ela carrega em sua essência a história da resistência dos africanos escravizados no Brasil, que a utilizavam como uma forma de expressão cultural e de autodefesa, disfarçada de dança para despistar a vigilância dos opressores. O jogo da Angola é caracterizado pela ginga baixa, rasteira e sinuosa, que simboliza a astúcia e a malícia. Os golpes são executados de forma lenta e cadenciada, valorizando o engano e a teatralidade no confronto. O berimbau, atabaque, pandeiro e reco-reco criam uma orquestra que dita o ritmo lento e grave, fundamental para o diálogo corporal.
Pastinha foi a figura central na formalização da Capoeira Angola como a conhecemos hoje é Mestre Pastinha, ou Vicente Ferreira Pastinha. Ele criou a Capoeira Angola, sendo um de seus maiores defensores e sistematizadores. Pastinha se dedicou a preservar a tradição e a filosofia do jogo antigo, fundando em 1941 o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA) para ensinar e divulgar o estilo puro. Ele aprendeu a capoeira com Mestre Benedito, um africano idoso, que foi seu primeiro e principal mentor. Pastinha acreditava que a capoeira era um jogo de malícia e inteligência, não de força bruta, e seu legado foi fundamental para que a Angola mantivesse sua identidade ancestral.
A ascensão da Capoeira Regional
Em contrapartida, a Capoeira Regional foi desenvolvida por Mestre Bimba, ou Manuel dos Reis Machado, no início do século XX. Bimba buscava modernizar e dar um novo status à capoeira, que na época era marginalizada e criminalizada. Curiosamente, antes de criar seu próprio estilo, Mestre Bimba era um notável capoeirista de Angola, tendo inclusive se destacado em diversas rodas e desafios. Ele percebeu a necessidade de sistematizar a capoeira para que ela fosse reconhecida como uma arte marcial legítima.
Com essa visão, Bimba criou a Regional, um estilo com movimentos mais rápidos, objetivos e acrobáticos, que incorporavam golpes de outras artes marciais. O jogo da Regional tem uma ginga mais alta e vertical, e a musicalidade é mais acelerada e vibrante. Em 1937, Bimba conseguiu o reconhecimento oficial do governo para sua academia, tornando-se o primeiro mestre a lecionar capoeira de forma legalizada. Ele desenvolveu uma sequência de golpes, o que tornou o aprendizado mais metódico.
Apesar de suas diferenças, os dois estilos são essenciais para a história da capoeira. A Angola representa a tradição, a raiz e a filosofia de um jogo ancestral. A Regional, por sua vez, simboliza a evolução, a formalização e o reconhecimento da capoeira como uma arte marcial. Ambos os estilos coexistem, enriquecendo a cultura brasileira e oferecendo caminhos distintos para quem deseja se aprofundar nessa arte. A escolha entre Angola e Regional é uma questão de afinidade pessoal, mas o respeito e o conhecimento por ambos os legados são fundamentais para qualquer capoeirista.
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